Até recentemente, a ideia de viajar geralmente implicava um roteiro otimizado: como visitar o maior número de lugares no menor tempo possível. A prática era não apenas uma forma de abarrotar os passaportes de carimbos, mas também de acumular experiências ao máximo e compartilhá-las nas redes sociais.
No entanto, veio a pandemia, e com ela a necessidade (e, em muitos casos, a obrigatoriedade) de isolamento e reclusão social. Não por acaso, o turismo foi um dos setores mais afetados pela Covid-19: de acordo com um relatório da ONU[1], o impacto no setor custou US$ 4 trilhões para as economias globais, à medida em que as quantidades de viagens foram reduzidas em mais de 60% em diversos países.
Esperava-se que a “volta à normalidade” do pós-pandemia trouxesse consigo um turismo ainda mais alucinado e otimizado. E embora o número de viagens tenha apresentado melhoras progressivas em 2022, um novo tipo de comportamento chamou a atenção do setor turístico: o Slow Travel.
A prática diz respeito a um modelo de viagens mais espaçado, que permite aos turistas aproveitarem o tempo em seu destino e viverem as experiências de um “nativo”. Com isso, destinos que antigamente eram menos badalados começam a ganhar projeção: cidadezinhas praianas, pequenas vilas do interior, passeios nas montanhas e por aí vai. Tudo em prol da desconexão, das experiências profundas e do “tempo de qualidade”.
O Slow Travel é um comportamento emergente que se relaciona com um contexto no qual as pessoas estão em busca de paz de espírito e bem-estar. A viagem, neste sentido, surge como uma forma de escapar dos tempos corridos, da ansiedade dos trabalhos remotos que levou muitos à beira do burnout.
Ao mesmo tempo, o comportamento também encontra alguma aderência à ideia da sustentabilidade e da conexão com os “green and blue spaces”. O turismo ecológico é uma forma de gerar “Eco-Relief”, ou seja, um alívio proporcionado pelo contato com o meio-ambiente. Não por acaso, países como a Noruega têm investido neste setor: boa parte de seu apelo está em passar noites em cabanas ou “casas na árvore” isoladas nas florestas nórdicas.
O Slow Travel tem ganhado cada vez mais atenção midiática. A influencer Pati Herzog, por exemplo, tem construído sua carreira fazendo curadoria de destinos relaxantes. É o caso também da brasileira Brenda Tavares, cujo site é destinado a promover o Slow Travel como um estilo de vida: ela não apenas dá dicas de viagens, mas também indica livros para levar, músicas para ouvir e roupas para usar.
Percebe-se, assim, que tem se criado um ecossistema de consumo em torno do comportamento do Slow Travel – que acaba sendo um desdobramento de uma vida mais slow, mesmo fora dos momentos turísticos.
[1] https://brasil.un.org/pt-br/134140-impacto-da-covid-19-no-turismo-pode-custar-4-trilhoes-de-dolares-para-economia-global-alerta
Escrito por: Lucas L. Fraga
Head de Estratégia