Como seria se, em vez de comprar ações de empresas, fosse possível investir em pessoas físicas – como um jovem brilhante, ainda no ensino médio, mas com chances de criar o negócio bilionário?
É isto que os irmãos Daniil e David Libermans acreditam que seja a próxima grande aposta no mundo dos investimentos. Juntamente com outras duas irmãs, Maria e Anna, os irmãos Libermans fundaram a plataforma Humanism, em que é possível fazer investimentos em pessoas físicas, especialmente jovens com carreiras promissoras pela frente.
Operando na mesma lógica de startups do Vale do Silício – que passam por várias rodadas de investimento em ações de uma empresa cujo produto muitas vezes nem está em versão final –, os irmãos planejam facilitar o acesso ao crédito para jovens em começo de carreira. Mas claro, tem o porém: depois do sucesso, os investidores teriam seu dinheiro de volta, com juros e correção monetária.
Está achando difícil de acompanhar? Imagine um casal que pagou anos de escolas privadas, cursos extracurriculares, viagens de intercâmbio e outras atividades para seus filhos. Imagine que, com todo esse incentivo, o jovem acaba se tornando um grande empresário, ganhando milhões por ano. Neste caso, parte do dinheiro que recebe é repassado para os pais, como pagamento por todos os anos de “investimentos”.
A proposta da Humanism é parecida. Porém, o investidor não necessariamente conhece ou tem alguma relação com o seu objeto de investimento.
O grande desafio dos irmãos Libermané encontrar uma fórmula capaz de projetar o sucesso de uma pessoa. Em outras palavras, prever o seu valor ao longo do tempo. Afinal, seria possível atribuir um “valor de mercado” a pessoas?
Para evitar a polêmica desta pergunta, a Humanism coloca algumas condições para o investimento. Não é possível investir em um único indivíduo, o que em tese impediria preconceitos de algum tipo: as pessoas são agrupadas como “pacotes e fundos”, assim como no mercado de ações. Além disso, a plataforma também faz uma distinção entre as atividades profissionais e pessoais. O dinheiro recebido só poderia ser utilizado para auxiliar projetos e carreiras; nada de viagens de férias bancadas pelo seu investidor!
O filósofo e professor de Harvard, Michael Sandel, explica que, sem nos darmos conta, fomos deixando a situação de termos uma economia de mercado para nos tornarmos uma sociedade de mercado. A diferença é que na primeira o mercado é uma ferramenta de organização da atividade produtiva, enquanto na segunda os valores de mercado passam a atravessar todos os aspectos da atividade humana.
Na projeção de futuro do Humanism, pessoas se comportariam como startups, buscando investimentos privados tão logo começassem as suas carreiras. Para os jovens que precisam de acesso ao crédito, a proposta parece bastante interessante. Mas será que investidores concordam? Afinal, existe como prever o sucesso de uma pessoa? Cabe aos irmãos Liberman descobrirem como convencer investidores a trocarem os tradicionais investimentos em empresas para arriscar seu dinheiro em outros seres humanos.